Walkability: tendência ou necessidade?
Você já ouviu falar do termo walkability? Bem, resumidamente podemos dizer que é um conceito sobre a facilidade e qualidade de deslocamento a pé nas cidades. Mas como esse conceito vem sendo aplicado? E mais ainda, qual a importância disso para a sociedade?
Confira neste artigo algumas respostas sobre o tema e exemplos de como o conceito de walkability vem sendo aplicado com sucesso em algumas cidades mundo afora.
Walkability ou caminhabilidade
Walkability, em inglês, ou caminhabilidade em português, é um conceito simples que pensa sobre o cuidado com a jornada do pedestre. Essa simples e importante conceituação a respeito do ambiente para o pedestre tem um grande impacto não só na qualidade de vida, mas na sustentabilidade da cidade.
Voltando um pouco no tempo, no início da década de 90, no Canadá, surgiu a ideia de se medir a caminhabilidade. Essa ideia surgiu após um problema tributário que envolvia aumentos dos impostos, valoração dos imóveis, gastos com infraestrutura e mobilidade. Assim, o político e ambientalista Chris Bradshaw desenvolveu um estudo e um método para mensurar a caminhabilidade.
Mas porque walkability é tão importante?
Segundo Ricky Ribeiro e Marcos de Sousa no artigo “Caminhabilidade nas cidades brasileiras: muito além das calçadas”: “[...] caminhabilidade (do inglês, walkability) é uma qualidade aplicável a espaços públicos, bairros e cidades inteiras e que define o quão convidativo esses lugares podem ser para circular a pé, ou de cadeiras de rodas, no caso de pessoas com deficiência. Ambientes construídos que promovam e facilitem o deslocamento a pé às lojas, trabalho, escola, hospitais, equipamentos e serviços são melhores lugares para viver, têm valores imobiliários mais altos, promovem estilos de vida mais saudáveis e alcançam níveis mais elevados de coesão social.”
Caminhar é democrático. Classe, cor, gênero... Nada disso influencia quando uma pessoa decide percorrer um trajeto a pé. Mas os fatores externos são extremamente relevantes ao locomover: ruas niveladas, amplo espaço para locomoção com segurança, boa iluminação e outros fatores são importantes para facilitar e valorizar o ambiente para o pedestre.
Walkability em 4 passos
Em seu artigo “Creating - and using - a rating system for neighborhood walkability: Towards an agenda for ‘local heroes’” (“Criando - e usando - um sistema de classificação para caminhabilidade de uma região: rumo a uma agenda para ‘heróis locais’”, em tradução livre) de 1993, Chris Bradshaw aponta quatro características básicas para walkability:
1. Ambiente amigável para o deslocamento: calçadas niveladas, espaço amplo, boa iluminação, recipientes de lixo em boa quantidade.
2. Destinos úteis facilmente acessados a pé: lojas, empregos, escritórios.
3. Ambiente natural valorizado: sombra de árvores para controle da temperatura solar, menos poluição e sujeira de veículos, menos ruídos.
4. Cultura social diversa para aumento das relações sociais, melhoria do comércio e aumento das oportunidades.

Walkability pelo mundo
As cidades que têm os melhores índices de walkability iniciaram seus projetos ainda na década de 90, o que indica uma preocupação antiga com a qualidade de vida da população. E mesmo que algumas cidades tenham iniciado esse processo há mais tempo, isso não impede que atualmente essa questão seja pensada e planejada com ainda mais afinco.
Em algumas cidades há projetos com estacionamentos no subsolo e mais espaço para pessoas caminharem com segurança e facilidade. Em Los Angeles, Nova York, Amsterdã, e muitas outras cidades, há espaços com a perfeita confluência entre tráfego de carros e caminhabilidade.

Alguns exemplos bem sucedidos de aplicação desse conceito são:
Helsinque, Finlândia
A cidade tem um plano para 2050 que conectará residência, lazer, trabalho e comércio, deixando-os mais próximos e acessíveis, diminuindo a quantidade de veículos, e aumentando a quantidade de pessoas nas ruas.
Hamburgo, Alemanha
A cidade já foi eleita a Capital Verde Europeia e tem, através da caminhabilidade, incentivado o transporte ativo e a fim de reduzir as emissões de CO2.
Nova York, Estados Unidos
Famosa por seu trânsito de veículos intenso e caótico, a cidade de Nova York há alguns anos passou por reformas no que se diz respeito à caminhabilidade. O fechamento de ruas para o acesso de carros, a reforma de calçadas e praças, e o aumento da área de ciclovia trouxe melhoria no score de caminhabilidade que faz de Nova York uma das mais bem avaliadas cidades americanas em walkability.
Walkability no Brasil
No Brasil, a caminhabilidade ainda tem muitas batalhas pela frente a fim de conquistar a importância que obteve em alguns outros países. Desde de 2012 a Política Nacional de Mobilidade Urbana defende que as ruas sejam ambientes seguros e de convívio da população.
Além disso, políticas públicas, planos de caminhabilidade e inclusão para mobilidade vêm sendo apresentados nos últimos anos em diversas prefeituras brasileiras. A avaliação do caminho percorrido e a qualidade que esse caminho apresenta para o pedestre, a melhoria da sinalização e a inclusão de sinalização para deficientes auditivos e visuais são algumas provas de que caminhamos, ainda que timidamente, para um processo de reestruturação do caminho urbano.

Para o mercado imobiliário a expressão “resolver tudo a pé” é uma chamada para se aproximar dos clientes que procuram conforto e facilidade para o dia-a-dia. Além da proximidade de uma vasta opção de lazer, comércio e serviços, a tendência de novos empreendimentos imobiliários é a preocupação com o entorno.
Um empreendimento localizado em uma área com boa pavimentação, área bem sinalizada, calçadas niveladas e rua iluminada aumenta a sua valorização. Ou seja, para o mercado imobiliário quanto melhor for a facilidade em se locomover a pé e acessar tudo que precisa mais valorizado será o empreendimento.
Em João Pessoa, São Paulo e Goiânia por exemplo, foram lançados empreendimentos onde além da qualidade estética e incrível estrutura interna os projetos apresentaram adequações que se encaixam no conceito de walkability.
Em ação realizada pelo Mobilize Brasil, a Campanha Calçadas do Brasil 2019 coletou e analisou avaliações sobre a caminhabilidade em diversas cidades brasileiras. Por meio da campanha, a Mobilize apresentou o Mapa das Avaliações onde podemos dentre outros resultados ver o Ranking de Caminhabilidade. São Paulo, Belo Horizonte e Florianópolis tiveram os melhores índices de caminhabilidade na amostra avaliada, conforme gráfico abaixo.

Walkability na prática
O conceito de walkability pensa em acessibilidade urbana e sustentabilidade. Mais do que estética, repensar a mobilidade das pessoas é uma necessidade do futuro.
A forma como nos relacionamos com a cidade e os espaços vêm mudando muito, principalmente com a pandemia. Projetos que visam à melhoria no espaço do pedestre transformam o caminho e dão a sensação de um mesmo percurso ser muito mais curto.
Bairros mais conectados entre si com mais facilidade de acesso mesmo a pé, complexos de lazer, áreas comerciais, residências e áreas de trabalho mais próximas e facilmente acessadas sem a necessidade de veículos impactam diretamente na decisão de escolha na hora da compra de um imóvel, ou início de um novo empreendimento.
Locais com mais opções de lazer e comércio são vistas como melhores locais para se viver, o que aumenta o valor da avaliação imobiliária. A questão é que podemos ver walkability não apenas como uma tendência mas como uma nova forma de organização urbana e crescimento econômico sustentável.